Faça acontecer por todas nós: nem uma a menos

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Digite no Google as palavras “engenheira mulher”. Há as seguintes sugestões de pesquisa: “motivos para namorar uma engenheira”; “engenheira civil feminina”, “engenheiras famosas”, “engenheira civil como se vestir”, “como uma engenheira deve se vestir”. Agora, se digitarmos apenas a palavra “engenheiro”, iremos verificar as seguintes menções “tipos de engenheiro”; “profissão engenheiro”, “engenheiro salário”, “engenheiro o que faz”. E qual a diferença entre uma pesquisa na internet e a realidade? Nenhuma. Uma mulher engenheira é questionada pela sua aparência e pelo seu gênero, e não por sua competência e capacidade técnica. Pensamento este fruto da sociedade machista que questiona, invisibiliza, objetifica e inferioriza a mulher e o seu trabalho.

Por Simone Baía

A engenharia é uma área predominantemente formada por homens. De acordo com dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), os homens registrados representam pouco mais de 86% e as mulheres cerca de 14% apenas. Na seleção de uma vaga de emprego, é comum que mulheres sejam rejeitadas pelo mercado de trabalho, pois têm a sua competência rejeitada e questionada a todo o momento e, geralmente, a cultura organizacional das empresas é masculina. Uma mulher engenheira chefe, presidente ou coordenadora garante representatividade e também possibilita que outras mulheres avancem. A engenharia pode, concretamente, melhorar a vida das mulheres trabalhadoras, com obras de saneamento, tratamento de água, construção de creches, escolas, produção de alimentos seguros, entre outros. 

Nós, engenheiras, queremos ser percebidas por nossa capacidade técnica e competência, e não por nossos corpos. E os homens nessa luta precisam ser nossos aliados. Afinal, quando uma mulher avança nenhum homem retrocede. Em uma reunião de trabalho ou política, quantas mulheres são ouvidas? Vocês percebem quantas mulheres existem no espaço? Quantas mulheres têm seu local de fala respeitado? 

Esse quadro de machismo é também refletido na conjuntura nacional com o golpe sofrido pela primeira presidenta mulher do Brasil, Dilma Rousseff. Passado o golpe, uma das primeiras medidas foi a ocupação dos espaços de poder majoritariamente por homens e o fim do status de Ministério da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, vinculando ao Ministério da Justiça e da Cidadania. Para agravar ainda mais o cenário, o presidente ilegítimo, Michel Temer anunciou como prioridade as reformas trabalhista e da previdência, que atingem diretamente as mulheres. Um dos pontos iguala a idade de aposentadoria entre homens e mulheres para 65 anos, ignorando a dupla jornada de trabalho da mulher, que pode chegar a 20 e 25 horas semanais a mais com as responsabilidades familiares e domésticas.

Por todos esses motivos, escolhemos o tema “Faça acontecer por todas nós: nem uma mulher a menos!”, para marcar o 8 de março deste ano, dialogando com o movimento internacional de mulheres. A proposta é dar visibilidade ao conceito de sororidade e fortalecer a luta pelo fim da violência contra a mulher. Afinal, o que significa sororidade? Sororidade é o apoio e o exercício de empatia entre mulheres. Não estamos sós e juntas somos mais fortes. 

Culturalmente, somos estimuladas a tensionar uma rivalidade entre nós e até mesmo a reproduzir uma política de disputa. Não somos inimigas. Podemos nos apoiar reconhecendo a competência profissional de outras, acolhendo mulheres em situação de violência, indicando mulheres para vagas de emprego, construindo uma rede de apoio para mães, apoiando mulheres na ocupação dos cargos de direção política. Faça acontecer por todas nós significa interseccionar nossas lutas pelo feminismo negro, trans e indígena, e também rejeitar uma lógica simplista de meritocracia. A feminista norte-americana Angela Davis afirmou: “O tipo de feminismo que eu abraço não é um feminismo dividido. É um feminismo que busca a integração”. 

Precisamos de uma nova forma de fazer política, com espaço de escuta e disputa de ideias. Ouvir e acolher são exercícios necessários, em vez de somente política de reprodução da violência. Desta forma, conseguiremos avançar, reunir mulheres, formar novos quadros e politizar questões de gênero nos espaços. E você? Já perguntou a opinião de uma mulher hoje?

Simone Baía é engenheira química e diretora da mulher da Fisenge filiada ao Senge-ES.

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