“Se estivermos no patamar da liberdade, a sociedade será mais plural”, afirmou Sonia Latgé, durante a abertura da palestra sobre “A luta das mulheres na atual conjuntura política”, no dia 24/4. O debate integrou a programação do planejamento estratégico do Coletivo de Mulheres da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), no Rio de Janeiro. A diretora da mulher da Fisenge, Simone Baía fez uma reconstrução histórica das mulheres engenheiras na federação. “Completamos 10 anos do Coletivo de Mulheres este ano, lutando por bandeiras fundamentais na luta por igualdade de oportunidades e direitos. Este momento de debate tem o objetivo de aprofundarmos sobre o atual cenário político no país e o impacto na vida das mulheres trabalhadoras”, informou Simone. Já o presidente da Fisenge, Clovis Nascimento apontou para o cuidado com as narrativas e abordagens midiáticas. “Combater a corrupção, inerente ao capitalismo, é um dever de todos(as) nós. A História se repete e precisamos estar atentos aos discursos de ódio e repudiar todo e qualquer tipo de atentado à nossa democracia “, afirmou Clovis.
Sonia trouxe um panorama sobre os reflexos da crise do capitalismo. “Estamos vivendo uma crise do capital, que atinge a sociedade brasileira. A luta de classes fez com que houvesse regulação do trabalho com garantia de direitos e o PL 4330 ameaça as conquistas e os direitos dos(as) trabalhadores(as)”, pontuou Sonia. A geógrafa e representante do Coletivo de Mulheres da Bahia, Júlia Garcia destacou que a crise do capital impacta na crise ideológica e, inclusive, na vida das mulheres. “Não era apenas uma marolinha. A crise do capital chegou para o capitalismo se renovar. Agora, qual a saída? Pela vontade da classe trabalhadora de construir um outro sistema alicerçado por valores de solidariedade e igualdade”, disse.
Um dos pontos destacados no debate foi o impacto do PL 4330, que amplia as terceirizações no Brasil, na sociedade brasileira. ” “Podemos tentar construir a consciência de consumo das mulheres como empoderamento político, uma vez que nós somos responsáveis por 80% do consumo nos lares. Por exemplo, Sandro Mabel, autor do PL 4330 e dono da indústria alimentícia Mabel. Imagina o impacto de um boicote ao produtos”, provocou Marcia Nori, vice-presidenta do Senge-BA. A aprovação do PL 4330 é apenas um dos reflexos da atual composição do Congresso Nacional, a bancada mais conservadora e retrógrada desde a redemocratização do país, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). “Estamos atravessando um momento difícil no Congresso Nacional. Temos aberrações como o Estatuto da Família e do Nascituro tramitando, oferta de cura gay pelo SUS. Não podemos permitir que, por questões divinas, parlamentares legislem nos úteros femininos”, problematizou Sonia.
Desigualdade: do assédio moral às diferenças salariais:
Simone Baía lembrou da agenda política do Coletivo sobre o fim do assédio moral, pela ocupação dos espaços de poder e pela divisão das responsabilidades . “A ONU já reafirmou a necessidade da divisão das responsabilidades familiares e domésticas. Essa não é uma luta apenas das mulheres, mas sim das famílias”, apontou Simone. Nas relações de trabalho, o enfrentamento ao assédio moral é central. “Geralmente, as mulheres não fazem a denúncia do assédio moral e são as mais vulneráveis nessa situação, o que gera problemas de saúde gravíssimos. Estamos falando do direito à saúde do(a) trabalhador(a)”, afirmou a engenheira agrônoma e diretora do Senge-PR, Mary Stela Bishof.
A secretária-geral do Senge-SE, Elaine Santana levantou a questão sobre igualdade de oportunidades. “Há dificuldade muito grande das mulheres participarem dos espaços políticos, por causa, muitas vezes, da família, uma vez que toda a responsabilidade fica para a mulher. Outro ponto é o mercado de trabalho para as engenheiras, pois ainda existe discriminação. Muitos empregadores deixam de contratar mulheres e quando contratam o salário é sempre menor”, argumentou. Nesse sentido, a diretora da mulher, Simone Baía reforça a importância da organização das mulheres. “Um ponto central na construção de nossa luta é a formação política para o empoderamento da pautas de gênero. Ao longo de 2015, faremos oficinas de formação. A luta pelos direitos da mulheres significa a luta, de homens e mulheres, por igualdade de direitos e pela construção de uma sociedade verdadeiramente justa”, finalizou Simone.
Com informações de Fisenge