Quando chamado, o aluno levantava de seu lugar e, acompanhado de um familiar, recebia seu certificado sob uma cama de aplausos. Parecia uma formatura comum, mas havia uma diferença: toda cerimônia estava sendo realizada na Penitenciária Estadual de Vila Velha (PEVV-II). O curso Instalador de Gesso Acartonado (Drywall) é uma iniciativa inédita do Sindicato dos Engenheiros (SENGE-ES) e do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-ES) do Espírito Santo, com SESI/SENAI, Rede Cidadã e Placo do Brasil. O objetivo é garantir a ressocialização dos detentos por meio da qualificação profissional.
Para a maioria dos 48 internos formados no dia 11 de outubro, o curso significou o primeiro diploma de suas vidas. Ao todo, serão capacitadas 100 pessoas e o trabalho já aponta sua continuidade. O curso se preocupou em ensinar um ofício que tem carência de mão de obra: o Drywall, técnica construtiva de paredes que facilita o processo de alvenaria das edificações. O projeto tem como meta que todos saiam empregados. Para tanto, se faz necessário preparar o detento para áreas que tenham aceitação de mercado – atualmente, a construção civil é a que tem maior procura por novos empregados.
Além de capacitar os internos para o mercado que os espera lá fora, é necessário preparar o empresariado e os profissionais para dar oportunidade de trabalho para quem acabou de cumprir pena. Tanto o SENGE-ES, quanto o CREA-ES possuem importância fundamental nesse papel. Além de patrocinarem o curso, ambas são entidades com interlocução com quem vai lidar diariamente com os egressos nos canteiros de obra: os engenheiros.
Parceria:
Para maximizar o fator empregabilidade, os detentos tiveram as mesmas disciplinas que qualquer aluno teria. O curso foi ministrado por docentes treinados pela Placo do Brasil, empresa de reconhecida excelência em tecnologia construtiva que forneceu todo material utilizado nas aulas praticas. Os diplomas foram certificados pelo maior agente de educação profissional e tecnológica da América Latina: O SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Já a Rede Cidadã entrou para atuar na recolocação desses trabalhadores no mercado. A ONG é especializada em potencializar redes de trabalho e faz isso há dez anos.
O Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo. Cerca de 70% não têm sequer o ensino fundamental concluído. Números do Conselho Nacional de Justiça apontam que menos de 14% desses internos trabalham, e apenas 8% estudam. Por isso a capacitação profissional é tão importante na reintegração social dos internos. O risco de retornar à vida criminosa é menor quando se tem um emprego. Dessa maneira se quebra todo um ciclo de criminalidade e menos detentos retornam ao presídio. Hoje sete de cada dez ex-presidiários voltam para o crime.
Evandro Petroque – Sesi-Senai: Gerente Senai Vila Velha
“Acredito na educação profissional como meio de transformação social. Não tenho duvida em afirmar que esse tipo de ação é importante para toda sociedade. É um trabalho que recupera pessoas”.
Luciano Passareti – Rede Cidadã
“Esse é uma oportunidade real de mudança de vida para todos eles”.
Fernando Pereira Anastácio – interno
“Já passei por outros presídios. Nunca vi um lugar onde o preso é ajudado. Aqui na unidade encontrei isso. O curso foi excelente. É uma coisa inovadora que tem demanda de emprego lá fora. Esse conhecimento me fez bem. Quero exercer essa profissão que eu acabei de adquirir”.
Ana Christina Estrada, consultora do CREA-ES e diretora de formação do SENGE-ES
“Uma profissão dá para todos esses formandos uma oportunidade de mudança de vida. Os internos se capacitam para o mercado, e o mercado deve se abrir para recebê-los. É um trabalho de duas vias”.
