A engenheira química filiada ao Senge-ES e diretora da mulher da Fisenge, Simone Baía (foto) foi entrevistada essa semana pelo jornal da Universidade Metodista de São Paulo. Confira abaixo.
Ainda que haja uma presidenta, o país possui um número bem limitado de mulheres eleitas para cargos políticos. Como isso afeta a representatividade em uma democracia?
Uma democracia efetiva pressupõe a representatividade da diversidade de nosso país. Diversidade esta capaz de disputar e lutar pelas bandeiras dos direitos humanos na sociedade. E embora, nós mulheres, sejamos maioria da população brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estamos fora da maioria dos espaços de poder. É importante destacar que não apenas mulheres estão sub-representadas, como também jovens, negros e indígenas.
Além das cotas partidárias obrigatórias, quais os caminhos para inserir mais mulheres na política?
As cotas são importantes, mas representam apenas o primeiro passo de uma agenda mais ampla de políticas. É fundamental que a direção e a base dos partidos estejam comprometidos com a luta pela igualdade de direitos e oportunidades. Isso significa muita formação política, estudo e comprometimento com a classe trabalhadora. Se essa consciência for princípio nos partidos, nos movimentos sociais e sindicatos teremos a primeira pedra de uma construção muito maior, que é a outra sociedade justa, igualitária e fraterna.
Há um preconceito, ainda, em se votar em mulheres?
Sim, ainda há preconceitos. Até porque o processo eleitoral, o parlamento e a própria mídia são reflexos de uma sociedade ainda machista e patriarcal. E infelizmente, a imagem na mulher nos meios de comunicação ainda é altamente sexista, atuando sempre na direção de diminuir, denegrir e até questionar a capacidade da mulher na vida pública. Para avançarmos na mudança, ainda precisamos conscientizar a sociedade de que nós, mulheres, não somos meros objetos de consumo, mas sim protagonistas dessa história de luta de classes.
Quais políticas públicas que, em específico, teriam grandes avanços com a participação feminina nos ambientes políticos?
Essa é uma questão estrutural da nossa sociedade. Acredito que apenas com uma reforma política popular seremos capazes de enfrentar a sub-representação das mulheres no Parlamento. Para além da reforma política, reforço a necessidade da disputa interna e no intenso trabalho de formação nos partidos e movimentos social e sindical. Assim, a luta pela ocupação dos espaços de poder, contra o preconceito e discriminação deve ser encarado como um mal, e como todo o mal deve ser combatido, não apenas pelas mulheres, e sim por homens, negros (as), indígenas, homossexuais e jovens em busca de igualdade de oportunidades e direitos. Nós, mulheres, seguiremos lutando pelo fortalecimento da agenda dos direitos humanos.
Fonte: Fisenge